BuscaPé, líder em comparação de preços na América Latina

20 abril 2007

De galho em galho, um pouco fica

"De tudo fica um pouco".

Todo dia estamos trocando de células. Descartando pele morta. DNA. Logo, onde quer que passamos, fica um pouco de nós. Basta que procurem com calma - Sempre fica um pouco: Na cadeira do trabalho, no teclado do PC, no banco do ônibus, na lata de coca-cola amassada, na mão recentemente conhecida e introduzida. Tudo, tudo fica um pouco.
Um pouquinho de nós vai ficando em tudo.
Nas pessoas que amamos - Um pouco de nós sempre ficará. Aos poucos, um pouco sempre fica sim. Uma frase, uma opinião, uma lição.

No último apartamento que morei, um rapaz, que morou lá logo depois de mim, suicidou-se. Eu fico pensando, o que dele ficou? Eu sei que de mim ficaram várias coisas naquele apartamento. Ficou um cabide de porta no quarto que eu dormir nas primeiras noites, e que logo depois virou o quarto de hóspedes. Ficou também alguns obejtos consertados que a minha mão santa quebrou ao longo do ano que lá morei. Ficaram algumas manchas nas paredes, e no quintal (sim, o apartamento tinha um "quintalzinho"), no canteiro de terra ficaram enterradas algumas bitucas de cigarro e sementes mortas. Tenho certeza que lá ainda tem dentro dos ralos alguns fios de cabelo. Pois sempre sobra algo.

Fico pensando o que ainda tem de mim na primeira casa que morei. Será que ela, a casa, ainda lembra de mim? Será que se eu voltar lá, ela ainda vai lembrar daquele moleque magrelo? Será que ainda tem algo lá, depois de tantos anos? Quase duas décadas.
E no apartamento que fez parte da minha adolescência, ali na quatorze de março, no bairro do Umarizal. Será que ainda tem restos das festas em casa? Das namoradas? Dos amigos, inclusive daqueles que já se foram? Ainda resta um pouco lá? Será que se eu voltar lá talvez consiga resgatar esses anos passados? Consiga um pouco de inocência e malícia? Um pouco de preguiça de ir para a aula na federal? Será que se dormir lá eu consigo acordar as cinco e meia da manhã e ir para o quartel?

A única certeza que eu tenho é que dentro de ti, um muito de mim ficou, pois sempre fizestes questão de me mostrar isso, que ficou, e agora que estás, iremos fazer ficar muito mais, pois cada prego, cada estante, cada parafuso pregado é nosso. Então não sei do que ficou para trás, nos outros, em outros lugares - apenas sei que ficou, pois sempre fica algo.

Apenas sei o que ficará a partir de agora que caminhamos juntos lado a lado na mesma direção.

9 comentários:

Lívia Condurú disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Lívia Condurú disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Lívia Condurú disse...

Pelo menos então, a certeza de que muito de mim, por aí ficou.
Inclusive objetos quebrados. Pois, acredito que ninguém é tão desetrado como eu.

Ah! Quer dizer, minha irmã é, pois bater leite no liquidificador com a colher dentro, é bem mais que desastrice... rsrsrs

Mas como diz Drummond...
"De tudo ficou um pouco
Do meu medo. Do teu asco.
Dos gritos gagos. Da rosa
ficou um pouco.

Ficou um pouco de luz
captada no chapéu.
Nos olhos do rufião
de ternura ficou um pouco
(muito pouco).

[...]

E de tudo fica um pouco.
Oh abre os vidros de loção
e abafa
o insuportável mau cheiro da memória
[...]".

;-)

Lívia Condurú disse...

Viu... só esse post eu tive que escrever 3 vezes... rsrs

Menina Malvada (Ou Kaka) disse...

Muito bacana, chega a ser emocionante...
Me fez refletir muito... O que será que tem de mim nos outros?

Beijos

K. disse...

já busquei meus poucos por aí, mas eles já mudaram tanto quanto eu.

belo texto.

K. disse...

acabei de te convidar pra um post lá no plastic.

Chawca disse...

O mais importante pra mim é o hoje, o agora. O que ficou espalhado por aí, já passou. Só serve pra relembrar...

dela disse...

O cara ai de cima é bué safo!
=D