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16 maio 2007

Aventuras de JB@Roraima Parte I

Eu conheço um cara que é uma figura. Mas é uma figura mesmo. Ele tá velhinho agora, inclusive, é como ele gosta de ser chamado atualmente. Sou maior fã dele, mas não sou o único, pois esse velhinho tem uma legião de fãs espalhados pelo mundo a fora. E quando eu falo "pelo mundo" eu quero dizer que vai dos Estados Unidos da America, passando pela França, Alemanha, Londres e se bobear, até Japão. É o maior mateiro vivo em termos de Amazônia.
Já escalou o Pico da Neblina, o Monte Caburaí, Monte Roraima, Serra Pacaráima.
Já navegou no Amazonas, Rio Negro, Purús, Madeira, Tapajós.
Já esteve em lugares que a maioria dos brasileiros nem sonha que existe.
Já publicou dois livros de orquídeas da amazônia.
Pode chamar ele de JB, Velhinho, Batista, João, João Batista.
Eu mesmo só posso chama-lo de papai.

Vou publicar aqui a primeira parte da última aventura dele, que foi escrita pra mim em um email.

Meu Garoto,

Esta última viagem foi muito legal, só contando:

Saí daqui e fui direto à Boa Vista, lá eu procurei um contato com o Jordão, filho do velho Galego que moravam na Fazenda Aparecida, perto do Iramutã. O velho Galego foi quem socorreu tua mãe e eu, em 89 quando quebramos a Kombi voltando do Pium, no rio Mau. O Jordão era moleque naquela época e depois veio para Belém estudar agronomia na FICAp. Eu pensei que ele morasse no Uiramutã e queria apoio por lá, mas ele atualmente é Secretário de Estado na Secretaria do Índio. Imediatamente ele disse que tinha uma casa lá e 10 horas da noite ele apareceu na casa do Jorge Macedo com as chaves da casa: Casa completa com freezer, fogão, comida e tudo o mais. Avisou-me que as seis da manhã arranjaria uma Mitsubishi para me levar lá, só eu e o Motorista. Fiquei uma semana nessa casa antes de chegar a equipe da Comissão1. A cidade é cercada por malocas e me avisaram que não era permitido circular fora do KM, território urbano, mas mesmo assim eu saí todos os dias, fazendo caminhadas de 12-15 km. fotografando as cachoeiras dos parentes2.

No dia primeiro de abril chegou o pessoal da Comissão com um Pelotão do BIS3 de Boa vista. Fiz uma visita ao quartel e conheci o Comandante, um tenente de 23 anos formado pela AMAN4, O comandante do pelotão de Boa Vista também era da turma dele e veio para fazer rapel na fronteira e com a turma dele abrir as clareiras para o Helicóptero. A primeira turma saiu para a fronteira no dia 3 e dois dias depois fomos nós.

A missão da comissão foi reencontrar os marcos B-BG/13, 12, 11 E 11ª, colocados lá em 1932 E 1934, depois do rapel e abrir clareiras, a turma do tenente, 8 soldados e o Dauberson vasculharam a mata em busca do Marco por 2 dias e nada. A equipe técnica chegou e os milicos foram resgatados, substituídos por mais 6. Ficamos lá 4 dias. Nos primeiros 2 dias fiquei fazendo as minhas coletas e a turma procurando o marco, com laptop, GPS, mapas, guiados pela coordenada astronômica, e nada. Nos dois dias que eles saíram, acompanhados pelos soldados, perderam-se. Encontraram o acampamento via PARAFAL5... No terceiro dia eu avisei que ia procurar o marco.

Durante a noite eu ouvia o vento ululando como ondas do mar a uns 200 metros rumo sul, enquanto aqui no acampamento sem vento, então pensei :

- Ali há uma serra e lá está o marco.

Por isso resolvi procurar o marco, e as 8 horas da manhã a turma se dividiu e se mandou, eu fui no meu palpite e 9:30 da manhã encontrei o marco na dita serra.

VIREI HEROI.

Avisaram que o marco foi encontrado e fomos resgatados no outro dia e transferidos para a área do marco 12, lá o Dauberson avisou que eles já haviam vasculhado tudo e que o 12 era impossível ser encontrado. O tenente falou:

- Se o velhinho (eu) encontrar este eu desisto de ser soldado procurador de marco e a Comissão não precisa mais ninguém, só dele.

Eles tinham razão, a coisa lá é feia: Um planalto a l400 metros de altitude numa mata com sub-bosque fechado que só passava abrindo caminho com terçado e num raio de 400 metros estava praticamente roçado pela turma. No histórico do marco dizia que ele foi colocado num penhasco e só procuraram no baixão, ‘está errado’, pensei, mas fiquei 3 dias coletando e ouvindo histórias do dia a dia da turma. A noite o Dauberson ligou avisando que estava mandando a turma para montar um marco novo, eu então falei com o técnico e pedí mais um dia.

- Amanhã eu saio com vocês.

E ele concordou.

Pela manhã dei minha sugestão, abrimos uma picada de 1.200 metros num determinado rumo, com bússola e 10:30 da manhã saímos exatamente em cima do marco. Aí comprovou:

- O velhinho é bom mesmo.

Cada marco encontrado era uma festa regada a cachaça 51 e costeleta de porco assada. Fomos transferidos para o 11, aí apanhamos 4 dias. Na verdade eu não procurei o marco porque havia tanto material que eu não tive tempo para isso e a campanha estava no fim, mas eu tenho meu palpite de onde ele deve está. A turma procurou numa serra errada, o divisor ali deve ser somente uma lombada entre umas lagoas que existem, mas no próximo ano tem mais e eu já estou escalado.

(Continua...)


Legenda:

1 - A Primeira Comissão Brasileira Demarcadora de Limites (PCDL), sediada em Belém (Pará), é encarregada das atividades nas fronteiras do Brasil com Peru, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa.

2 - Índios.

3 - Batalhão de Infantaria de Selva.

4 - Academia Militar das Agulhas Negras.

5 - Fuzil usado pelo exercito brasileiro.

Um comentário:

Unknown disse...

Olá, eu sou o JM amigo do JB, ou Jorge Macêdo de Boa Vista - RR, amigo do João Batista-O Velhinho, O velho Bata, O JB Bina, do Pará ou da Amazônia ou do Mundo, sei lá...KKK. Já Morrí de rir aqui lendo as nossas aventuras nas terras de Macunaima. Encontrei o BLOG por acaso. Abraço para todos.

jorgemacedos@uol.com.br