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18 maio 2007

Aventuras de JB@Roraima Parte II

Dia 27 todos retornaram e eu continuei por lá. O Jorge Macedo chegara para fotografar e eu fiquei com ele. Até porque em Boa Vista eu estava hospedado em sua casa. Ele todo animado para sair pelas malocas e chegar até a Cachoeira da Andorinha fotografando. Como estava acompanhado por pessoas ligadas aos índios fomos lá num sábado. Os parentes estavam todos em Ajuri - toda a comunidade ajudando um dos membros, fazendo roça, casa, etc. E tomando Caxiri e Pajuarú. Eu pensei – “isto não vai prestar” - e não prestou. Conseguimos passar 5 malocas, mas quando chegamos na maloca do Makuquém, a última antes da Andorinha os parentes estavam todos no meio da estrada e mandaram levar o carro para uma casa. “Ferrou!”.

- O que vocês tão fazendo aqui? Nós vamos quebrar esse carro e vamos amarrar vocês. Desce, desce.

Cagada. Cada 10 parentes para um de nós, separados, cada um para um canto e repressão. O índio virou pro Jorge Macedo, Barrigudão:

- Tu vai beber Pajuarú, aqui bebida é de graça, não é como na tua maloca que a gente tem que pagar.

E deram para ele uma bacia plástica com uns cinco litros. Ele bebeu de uma talagada e disse: “Gostoso”.
- Tu vai beber mais uma
- Não, eu estou cheio
- Tu vai beber outra.

E ele bebeu.

- Muito obrigado.
- Tu vai beber outra maior agora.

Eu estava separado com outros e eles “bla-bla-bla”. Eu nem a aí. Mas estava ficando puto com a situação do Jorge. O motorista que é irmão de tuchaua, falou pra mim:

- Tu vai buscar água no carro para molhar barro
- Pronto, fui.
- Tu vai de novo.

Eu ficando puto. Um merreca dum índio de uns 25 anos chega para mim com um pacote de Derby e diz:
- Compra uma carteira de cigarro pra mim
- De quem este aí?
- É meu, mas tu vai comprar

Comprei.

- Agora tu vai comprar outra.
- Não. Já comprei uma.
-Tu vai comprar outra até comprar tudo.

Não prestou. Os outros lá cercados e se justificando, todo mundo bonzinho então pensei: “Vou ver o tamanho da coragem dos parentes”.

- ESCUTA AQUI SEU MERDA, SEU ÍNDIO SAFADO! QUEM TU PENSAS QUE ÉS PARA ME FALTAR COM RESPEITO? NESTA MALOCA NÃO ENSINARAM RESPEITAR PESSOAS MAIS VELHAS? QUEM VAI ME AMARRAR? QUEM VAI ME BATER? TU, TU, OU TU? VAI TE F...

Silêncio total.
Pensei: “agora o pau vai quebrar”.
Mas o silêncio continuou.

Nisso 2 tuchauas se aproximaram de mim, um de um lado, e outro do outro.

- Aqui ninguém vai lhe fazer mal, não. Fique tranqüilo.

Uma índia velha repreendeu o índio novo e eu tomei a carteira de cigarro que comprara.
Um outro grandão olhou para mim e disse:

- Pode tirar esta calça pra mim, tu vai voltar só de cueca

“É”, EU disse desabotoando o cinto:

- Eu estou hospedado lá no quartel e esta calça é do comandante, eu vou deixar ela contigo e amanhã eu volto com ele pra pegar de volta.
- Vai embora velho.

Eu olhei para ele, abotoei o cinto e disse:

-GELOU. PERDEU A CORAGEM.

Nisso o Jorge já havia comprado dos índios e fomos embora. Um parente pediu carona até o Uiramutã. um que só vivia falando no ouvido do Jorge: - Vou te amarrar, buchudão.

Chegando lá perguntaram onde ele ia ficar e ele disse

- Eu quero um rancho pra pagar a ida de vocês na maloca.

Peguei o Corneta, fiz que tirava da bainha e disse:

- Índio safado, tu agora está na minha maloca e agora eu vou te amarrar e vou te dar umas panadas de facão.

E a turma do carro:

- SEGURA O JOÃO NÃO DEIXA ELE DESCER, TRAVA AS PORTAS!!!

Claro que o parente vagabundo abriu com mais de mil, correndo.

Um comentário:

Lívia Condurú disse...

Incrível história.
Tem mais?!
Beijos.